Há pessoas que crescem connosco, que conhecemos desde sempre e pelas quais nutrimos um afecto sincero, mas que nos aborrecem. Têm uma conversa enfadonha, demasiado chata, retrógrada e de um nível de exigência tal que nos incomoda profundamente. Gosto destas pessoas por força do hábito ou porque gosto mesmo? Quando passo uma tarde com uma amiga de sempre e todas as conversas que temos acabam sempre no mesmo sítio, surge em mim uma certa tristeza por ser incapaz de compreender alguém que devia conhecer de olhos fechados. É como se eu pensasse que uma pessoa é de alguma forma e ela, sem aviso, tirasse a máscara e me desiludisse porque não tem nada a ver com o ideal que eu fazia dela. A capacidade de surpreender, de perguntar o inesperado é coisa que me leva a admirar alguém. Quero que me deixem encavacada, surpresa. E quando a excessiva organização se sobrepõe à vontade de fazer alguma coisa, a vida torna-se um frete. Pra que é que serve organizar os dias como se fossem um dossier com separadores? Vamos fazer tudo o que precisamos agora, cumprindo estritamente o apertado regulamento que a agenda diária dita e depois, quando formos velhinhos, vamos pensar: Agora que estou velho já não posso fazer o que realmente queria, porque perdi tempo com coisas fúteis, porque quis controlar os dias, em vez de deixar que eles me controlassem, porque quis ser perfeito. É a perfeição que te vai deixar feliz? Ou o gozo de ter gozado a vida da melhor forma, tirando dela o melhor. É o inesperado que pode trazer alguma coisa de bom. Quando me dizes: Hoje não posso, foi muito em cima da hora. Mas que raio! A hora tem forma, desde quando? Muito antes de haver horas, já existia vida. Fico chateada. Fula da vida, muito mais do que se me dissesses que não te apetecia. Irrita-me a ausência de capacidade para mudar os planos. A vida não é só um plano A, existem tantos outros planos B’s, C’s, D’s, quantos quiseres, basta quereres.
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